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Quarenta carros e uma equipe de mecânicos

Saiba como trabalham os mecânicos e como é feita a manutenção dos carros da Porsche GT3 Brasil, categoria que embeleza pistas do Brasil e do exterior com os lendários modelos 911 da fábrica alemã
Fernando Lalli

O trabalho no Box número 11 de Interlagos, às vezes, chega a ser mais movimentado que a disputa pelo melhor tempo na pista. Nos treinos livres da Porsche GT3 Brasil, os pilotos exploram seus limites em busca do melhor traçado, mas quando algo dá errado, recorrem sempre ao mesmo Box de apoio para os reparos necessários – desde pequenos remendos na carroceria até reparos no motor e câmbio. Ao contrário de quase todas as categorias do automobilismo que estamos acostumados a assistir, nas quais diferentes equipes disputam o primeiro lugar, o time da Porsche GT3 Brasil é um só; apenas uma grande equipe de mecânicos trabalhando unida pela manutenção dos mais de quarenta Porsches 911 que rasgam as pistas a mais de 260 km/h.
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O evento é dividido em duas categorias: Cup (motores 3.8l de 450 cv e pilotos mais experientes como Ricardo Rosset, ex-Formula 1) e Challenge (motores 3.6l de 420 cv). Para ambas, em cada etapa trabalham mais de mais de 30 engenheiros e 50 mecânicos remanejados de acordo com a demanda das duas categorias, sem distinção. Tanto que o próprio chefe dos mecânicos, Silvestre de Paulo Junior, não apenas faz o trabalho de coordenação como também coloca a mão na massa.

Durante os treinos e corridas, Junior fica encarregado do pit-stop de apoio, pronto para atender reparos emergenciais decorrente das corridas. Em certo momento, atrás dos boxes, ele aparece carregando nas mãos uma roda quebrada, depois de ser danificada por um piloto que pegou uma zebra mais alta. “Os pilotos forçam mais durante os dias de treino, por isso, o ritmo de trabalho nos boxes fica mais puxado”, explica.

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Próximo dali, dentro do Box de apoio, três mecânicos estão correndo contra o tempo no conserto da suspensão traseira do piloto Carlos Ambrósio, que corre na categoria Challenge, para que ele consiga participar do último treino do dia. Outros três estão enfiados debaixo do 911 de Marcelo Stallone, também da Challenge, para trocar o câmbio do carro. O ritmo de trabalho é intenso, mas mesmo assim não se vê um rosto fechado. É visível o prazer de todos os envolvidos em trabalhar com superesportivos de sonho, como os Porsches, e dentro de um esporte tão apaixonante, como é o automobilismo.

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Tradição em durabilidade

Recolhidos à oficina da categoria, que fica em São Paulo, todos os carros possuem um documento com o histórico de revisões e, entre as corridas, passam por um checklist minucioso de quase 100 itens, abordando todos os aspectos do carro, desde a troca de pastilhas e fluido de freio até a inspeção de sua adesivação externa. O trabalho é tão específico que algumas peças recebem tratamento especial na revisão, como os semi-eixos da transmissão, que são desmontados e enviados para uma empresa terceirizada, que submete cada peça ao aparelho de raio-X, procurando possíveis pontos de fissura e fadiga internos.

O chefe dos mecânicos exalta a durabilidade da mecânica Porsche, algo que é tradicional da montadora alemã em competições de longa duração ao redor do mundo. “Em toda revisão de motor, verificamos a taxa de compressão, possíveis defeitos visuais, passamos o scanner atrás de avarias, mas existem carros que correm a temporada inteira sem ter a necessidade de abrir o motor”, surpreende.

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Já a caixa de câmbio tem quase o mesmo período de manutenção, mas é mais sensível ao estilo de pilotagem. “Se o piloto é mais agressivo e freia mais dentro da curva, ele força mais o câmbio, e isso cria um desgaste, por isso temos que revisá-lo com mais frequência”, explica. Outro dado interessante é a medição da vida útil das peças, que nos carros de rua é medida pela quilometragem, enquanto que, no caso de modelos de competição, é medida em horas rodadas.

Nas etapas, a estrutura de manutenção dispõe do Box de apoio que centraliza a manutenção mais pesada dos carros, e de dois caminhões, um com a oficina de motor e câmbio, outro para o depósito de peças.

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Equipe jovem e treinada

Durante a semana, quando a categoria não está nos autódromos, Junior conta com uma equipe operacional de 15 pessoas, entre estas 7 mecânicos, 3 engenheiros, dedicados a garantir a manutenção e de preparação entre os carros. Nos finais de semana, a equipe se reforça com um exército de mais de 80 free-lancers entre mecânicos e engenheiros, de diversos graus de formação e experiência.

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“Quase todos os mecânicos que trabalham nas corridas passaram por cursos do SENAI e vêm de concessionárias de outras empresas, mas nem sempre eles chegam conhecendo a mecânica Porsche”, esclarece. Além disso, o chefe dos mecânicos da categoria aposta na contratação de profissionais mais jovens pela exigência física da função, sempre com prazo de entrega “para ontem”. “Além do sangue novo, a moçada tem aquela paixão pelo automobilismo”, enfatiza.

No entanto, Junior visita uma vez por ano a fábrica da montadora na Alemanha e passa por cursos de atualização, ficando assim responsável em repassar as informações à equipe operacional no Brasil. “Através dos meus treinamentos e das informações do dia a dia a que têm acesso, pouco a pouco eles vão se transformando em técnicos da Porsche”, afirma.

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Ou seja, para quem gosta de automobilismo e acha que trabalhar consertando carros de corrida desse nível é algo distante e que exige alguma formação fora do comum, não é bem assim. Basta ter força de vontade para aprender, cuidar bem da saúde física e mental, e um dia, quem sabe, conseguir realizar aquele velho sonho que muita gente tem ao trocar a roda de um carro, se imaginando no pit-stop de uma corrida com o uniforme de sua equipe preferida.

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