Confira as orientações e dicas para efetuar a manutenção de eixos diferenciais nos caminhões médios para evitar quebras e colocar em risco a segurança dos seus ocupantes
Carolina Vilanova
Estabilidade e segurança são dois pontos de extrema importância no funcionamento de caminhões, por isso todos os componentes undercar (embaixo do carro) devem passar por revisões criteriosas. Um desses componentes é o eixo diferencial, responsável por transmitir a potência do motor para as rodas de tração, mesmo em alta velocidade, fazendo girar mais rapidamente a roda externa em relação a interna em uma curva, compensando as diferentes distâncias percorridas por elas.
Nessa matéria, fazemos a revisão dos eixos traseiros de simples velocidade modelos MS-113 e MS-113 Plus, produzidos pela ArvinMeritor, que contam com diferencial de redução simples, montado na carcaça do eixo, e que abriga o conjunto pinhão e coroa. Esses componentes, as engrenagens satélites e planetárias, e os mancais com rolamentos de roletes cônicos são aplicados nos modelos médios Volkswagen 8.140 e 8.150, no micro-ônibus da mesma marca e nos caminhões da Agrale.
De acordo com a empresa, esse diferencial tem fácil manutenção, mais rápida e mais barata, pois permite a retirada apenas do diferencial e não do eixo inteiro para fazer os procedimentos. O conjunto é fixado por parafusos e permite que o diferencial seja removido para fazer o reparo na bancada.
Algumas recomendações, porém, são importantes: estacione o veículo em uma superfície plana, bloqueie as rodas, levante a traseira de modo que as rodas fiquem fora do chão, e coloque cavaletes de segurança. Para não sujar a oficina e nem o meio ambiente, prepare um recipiente para drenar o óleo do sistema.
Para trabalhar com segurança e oferecer um serviço de qualidade, o técnico deve ter em mãos o manual de serviços e ter conhecimento sobre o assunto. Além disso, use óculos de proteção e utilize apenas marretas de couro ou borracha para não danificar as peças e provocar um acidente.
“Domingos Ferreira, técnico da ArvinMeritor, orienta a revisão periódica do sistema a cada 40 mil Km, dependendo da aplicação, e troca inicial com 5 mil Km ou seis meses, para checar, principalmente, a folga do conjunto. “Quando um caminhão está em atividade, a tendência é aumentar a folga entre o pinhão e a coroa, o que compromete o seu funcionamento”, explica.
Vale lembrar que esse mesmo diferencial oferece também um modelo com cruzeta no lugar do eixo dos satélites. O processo de revisão e desmontagem em caso de substituição, porém, é o mesmo.
Diagnósticos
Entre as causas mais prováveis de problemas no eixo diferencial estão: patinação, tranco, impacto por conta de muito peso e excesso de carga no transporte. “Não saber operar o caminhão também prejudica o sistema, assim como aplicações mais severas”, alerta.
“Um dos sintomas que indica problemas é quando o componente começa a fazer ruído, como se estivesse roncando. Isso indica que as engrenagens ou os rolamentos devem ser substituídos, pois o rolamento está sem a pré-carga específica, provocando o ruído. A manutenção preventiva é muito importante pois quando o sistema tem avarias, o conjunto trava, ou seja, o caminhão para”, alerta o técnico.
Outras avarias podem ser causadas por fadiga do eixo, fadiga por choque, dentes quebrados e quebra no anel do ajuste do lado da flange, entre outros danos provocados por desgaste natural ou por fatores externos. Se o rolamento está bom, tem que fazer o ajuste da folga para não dar problemas de trinca nos dentes.
O que fazer na revisão?
As análises para comprovar se o sistema tem danos devem ser feitas no caminhão e depois numa bancada ou em um cavalete com segurança. O mecânico deve retirar e inspecionar todas as peças do conjunto. Em seguida, desmontar, limpar e lavar as peças com querosene para poder melhor avaliar suas condições.
É importante lembrar que o principal procedimento de manutenção é a lubrificação correta, que reduz desgaste do atrito, protege o metal de oxidação e corrosão, além de dissipar o calor excessivo.
O lubrificante correto é o SAE 85W 140 API GL 5) e deve estar sempre no nível indicado, sendo trocado em toda revisão.
Para retirar o diferencial do caminhão. Use ferramentas apropriadas para carregar e coloque a peça numa bancada segura ou cavalete. A vantagem desse sistema é exatamente a possibilidade de remover do caminhão somente o conjunto do diferencial e não o eixo inteiro.
Apesar de parecer um conjunto bruto, o diferencial tem especificações precisas e encaixes delicados, que podem ser danificados com manuseio incorreto, por isso tenha cuidado ao remover e fazer a desmontagem do conjunto. Além disso, os padrões de montagem devem ser respeitados. Esse modelo possui uma caixa do pinhão e toda vez em que for aberta, o retentor deve ser trocado. (A)
Outra característica é uma capa de mancal fixa e outra parafusada, o que diminui o peso e reduz a quantidade de componentes. (B)
Faça uma boa inspeção para ver se há desgaste no alojamento das arruelas das planetárias e das satélites. (C)
As peças de maior desgaste são: satélite e planetária, coroa e pinhão, eixo das satélites,e podem ser encontradas em kits de reparo.
Montagem
1) Depois de analisar os componentes e iniciar a montagem, limpe a face da carcaça, pois contém resíduos de junta líquida, que também deve ser usada para fechar. Preste atenção no torque dos parafusos que prendem a caixa: 110-150 Nm.
2) Monte os rolamentos do pinhão com auxílio de uma prensa, (2a) assim como a capa do rolamento na caixa de pinhão. (2b) É dada a pré-carga através de rosca e com um auxílio de uma ferramenta especifica. (2c) Aperte a caixa do pinhão para ajustar a pré-carga dos rolametos. Verifique a pré-carga girando o pinhão pela porca do garfo com uma chave de boca. O torque certo é de: 5,8 – 23 Nm.
3) O próximo passo é colocar a placa de trava na carcaça. (3a) Em seguida, coloque os parafusos. O torque é de 14 – 18 Nm. (3b)
4) Monte o garfo e a porca com o auxílio de uma prensa e depois coloque o soquete para fazer o aperto específico de 1000 – 1245 Nm.
Dica |
Separadamente, comece a montagem da caixa de satélites.Prepare a coroa para encaixar na caixa satélite. Aqueça a coroa antes de instalar na caixa de satélites, para isso introduza a peça em água quente, na temperatura de 120o C na região dos dentes. |
5) Passe o óleo lubrificante dentro da caixa e nas peças com a ajuda de um pincel. Monte a arruela planetária. (5a) Na sequência, monte a planetária. (5b)
6) Agora instale as satélites no eixo e depois coloque as arruelas.
Obs.: Certifique-se de que os furos estão alinhados com a parte do fundo.
7) Monte a outra planetária e a respectiva arruela. Feche a tampa posicionando-a corretamente. (7a)
Obs.: Antes da montagem, marque com giz para encaixar no mesmo ponto da montagem original. (7b)
8) O próximo passo é passar a junta líquida antes de fechar e apertar os parafusos, de forma cruzada e com torque de 210 – 235 Nm.
9) Com muito cuidado, coloque o conjunto do diferencial na carcaça.
10) Instale nesse momento as capas dos rolamentos, uma de cada lado
11) Em seguida, encaixe os anéis de ajuste, um de cada lado, e rosqueie até fixar.
12) Agora, coloque a capa do mancal.
13) Faça o ajuste da folga da seguinte maneira: coloque a ferramenta no lado oposto da coroa e aperte até sentir que encostou no pinhão (resistência da porca). Então solte dois castelos da porca para o pinhão girar.
14) Posicione a ferramenta do outro lado para dar a pré-carga no rolamento. Aperte a porca de ajuste até travar. Depois aperte um castelo. Aí, determinará a folga do par coroa e pinhão e a pré-carga dos rolamentos.
15) Coloque o relógio comparador com base magnética e verifique a folga entre os dentes do par pinhão/coroa. Posicione-o nos dentes da coroa e zere o relógio. Faça movimentos na peça, empurrando para frente e para trás, tomando cuidado para não movimentar o pinhão. A folga a ser encontrada deve ser de 0,13 a 0,38 mm.
16) Depois, instale o relógio nas costas da coroa e veja se há empenamento. Zere o relógio, gire a coroa e meça. O valor é de 0,2 mm.
17) Em seguida, pinte os dentes da coroa e rode a peça para checar a área de contato do par pinhão/ coroa.
Colaboração técnica: ArvinMeritor
Muito bom, mas seria interessante colocar a marca e o codigo da s ferramentas usadas, como por exemplo a ferramenta da figura 2c.
Isso sim é trabalho de qualidade parabéns.
Muito bom