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Artigo – Eles chegaram! E agora?

Por Fernando Landulfo

Nos últimos dois anos, a quantidade de veículos chineses que entraram no mercado brasileiro aumentou tremendamente. Pois é, quem foi ao último Salão do Automóvel teve a oportunidade de vê-los “ao vivo e a cores”. Todos muito vistosos, alguns apresentam linhas parecidas com a de grandes marcas européias. Outros são bem mais originais e com uma quantidade de equipamentos eletrônicos e acessórios que impressiona.

O acabamento, então, agrada a muitos. Tudo isso sem falar no preço: uma verdadeira tentação. Afinal de contas, venhamos e convenhamos, “a carne é fraca”. Quem não deseja comprar um veículo importado, novo, atraente e completíssimo, pelo preço de um sedã pequeno com bem menos acessórios? O enorme volume de vendas que alguns modelos estão apresentando responde à pergunta.

Há quem diga que esses veículos têm qualidade duvidosa, como algumas bugigangas chinesas, facilmente encontradas nas lojinhas de R$ 1,99 e nos camelôs, ou seja: “comprou, quebrou”. Os mais desconfiados usam sempre os mesmos argumentos: “O que é caro nem sempre é bom, mas o que é barato nunca é”, ou “Milagre não existe. Se é barato é porque algo está faltando ou é mal feito”. Mas será mesmo?

Antes de fazer qualquer julgamento preconceituoso, é preciso ter em mente que esses veículos são produzidos em um país cuja economia de escala é totalmente diferente da grande maioria dos países capitalistas. Ou seja: para a infelicidade da concorrência, as empresas chinesas dispõem de vantagens e incentivos considerados surreais, pelo menos na visão de outros países: subsídios para compra de máquinas e matéria prima, mão de obra farta, qualificada e barata, além dos incentivos fiscais e medidas protecionistas.

Por que isso ocorre? Bem, isso quem deve explicar são os economistas. O que importa é que os veículos são colocados no mercado internacional a preços arrasadores (para desespero dos demais fabricantes). Diante disso, “cai” a tese de que a qualidade desses veículos é necessariamente ruim. As atuais condições do país permitem a eles produzir “algo bom” a preços bem mais baixos do que os “nossos”. Mas uma coisa é preciso ter em mente: trata-se de uma indústria jovem, cujo produto (também jovem), está sujeito aos “inconvenientes da juventude”.

Outro argumento de venda, que está atraindo os consumidores é a garantia oferecida: até 6 anos, com custos de revisões fixos e surpreendentemente baixos. Algumas peças são mais baratas do que as similares de um veículo nacional de mesmo porte, mesmo sendo importadas – isso mesmo, as peças de reposição também vêm da China. Mas como isso é possível? A resposta é simples: novamente o sistema de produção do país.

Mas e a disponibilidade de assistência técnica e a logística das peças de reposição? Bem, ainda é cedo para se emitir qualquer opinião a respeito. Afinal de contas, eles acabaram de chegar. No entanto, algumas empresas estão prometendo disponibilidade total de peças e farta rede de concessionárias. Muitas já estão realmente apontando por aí. Já montaram seus centros de distribuição e afirmam atender ao concessionário em até 48 horas, tendo todas as partes em estoque, ou seja, o cliente não deverá esperar muito pelo reparo.

Mas isso só poderá ser avaliado com o passar do tempo. Assim também pode ser dito com relação a durabilidade dos veículos. É preciso esperar e ver como eles vão se comportar nas rígidas condições brasileiras: calor, congestionamentos intensos, estradas ruins, falta de manutenção preventiva, combustível adulterado, etc. Qualquer opinião antes de uma espera mínima é mera especulação. Novamente as montadoras chinesas afirmam que todas as adaptações mecânicas para o nosso mercado, ou seja, sobre as condições das nossas estradas, clima e costumes, foram feitas por meio de muita pesquisa e testes prévios.

Mas e o mecânico, como fica nisso?

Bem, o Guerreiro das Oficinas vai enfrentar um período de espera, relativamente longo, antes de ter esses veículos frequentando as suas oficinas. Pelo menos enquanto eles estiverem dentro do prazo da garantia. Mas isso não é motivo para entrar em pânico ou não se familiarizar previamente com os novos produtos.

Principalmente, no que diz respeito à disponibilidade de informações técnicas, procedimentos de manutenção preventiva, equipamentos, ferramentas, peças de reposição e, sobretudo, os “recalls”. Podem contar com a Revista O Mecânico nessa empreitada, sempre que pudermos vamos passar informações dos chineses para os nossos leitores.

Já sabemos que as montadoras que quiserem mesmo se firmar no nosso mercado vão ter que incluir o mecânico independente no seu bloquinho de anotações. Mais cedo ou mais tarde, terão de ajudar o reparador a fazer as manutenções e reparos necessários em seus veículos, afinal, eles vão aprender que essa é mais uma mania do consumidor brasileiro: escolher o seu próprio mecânico de confiança. E considerando que essas marcas são lideradas aqui por brasileiros, eles vão dar esse recado aos chineses, podem ter certeza. Faz parte da tropicalização!

Mas não se deve deixar para a última hora, pois que eles vão se tornar clientes, certamente vão. Além do mais, essas informações podem auxiliar o profissional a orientar corretamente seu cliente na hora de aconselhar ou desaconselhar a compra de um veículo.

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