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Artigo – O que mudou nos últimos 32 anos na vida do mecânico?

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Texto: Fernando Landulfo
Fotos: Arquivo

 

Quem, como eu, já passou dos 50 e tem mais de 30 anos de profissão, se lembra muito bem.

 

Nos meados dos anos 80, eletrônica embarcada era uma expressão considerada “esquisita” para o mecânico. Um papo que apenas alguns especialistas que trabalhavam em oficinas autorizadas de automóveis Mercedes-Benz ousavam discutir.

 

E não é para menos. Desde a proibição das importações, no início dos anos 70, apenas esta marca disponibilizava alguns poucos distribuidores e oficinas autorizadas.

 

As injeções K-Jetronic e KE-Jetronic, assim como, os sistemas ABS que equipavam esses veículos, eram considerados o mais alto nível de tecnologia disponível no mercado brasileiro.

 

Quem sabia repará-los, e tinha acesso aos manuais técnicos e equipamentos especiais, era considerado um membro da elite da profissão.

 

Mesmo quem se atualizava naqueles saudosos e aguardados cursos sobre carburadores, sistemas de ignição e regulagem eletrônica de motores, cujas filas de espera chegavam a 6 meses, naquele tempo, nem sonhava em “pôr as mãos” em um sistema de injeção eletrônica. Isso era assunto de revistas importadas. O máximo que se sabia eram boatos sobre estudos e desenvolvimentos realizados pelas montadoras nacionais.

 

Aqueles eram os bons tempos!

As coisas eram bem mais simples, vão dizer os saudosistas. E, na verdade, eram sim. Mais simples, não melhores. A maioria das falhas de funcionamento de um motor ciclo Otto se concentravam no carburador ou distribuidor. Se não eram esses os componentes responsáveis, bastava verificar: bomba de combustível, bobina, bateria, velas e seus respectivos cabos e filtros. Por fi m, restava a parte mecânica do motor.

 

Um kit de ferramentas convencionais, uma “lâmpada de ponto” e um voltímetro (muitas vezes substituído por uma lâmpada de testes), resolvia a maioria dos problemas do cotidiano. Kit de ferramentas para carburador somente nas oficinas especializadas.

 

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Analisador de motores? Luxo! Quem possuía um “Genius” ou “MEA” da Sun Eletric, ou um da marca Allen, era considerado bem-sucedido e, sua oficina, de luxo. Analisador de distribuidores? Pura ostentação. Analisador de gases? Para quê? Ninguém controla isso! A boa regulagem é a de ouvido! Basta um tacômetro para regular a marcha lenta e uma pistola estroboscópica para acertar o ponto inicial de ignição.

 

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Foto: ACOM Cetesb SP

 

Pois é, o alto custo de aquisição desses equipamentos, por vezes, os tornavam inviáveis. Mesmo que acelerassem razoavelmente o diagnóstico e proporcionassem serviços de melhor qualidade.

 

Naquele tempo, o mecânico precisava estudar menos. Foi lançado uma nova versão do Chevette, Opala ou Corcel II? Bastava esperar: os boletins de atualização dos carburadores e distribuidores logo eram publicados.

 

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Aquilo que ele aprendera na prática (no chão da oficina) era o que funcionava. Os detalhes, ele aprendia nos cursinhos de atualização, uma vez ao ano.

 

Saber outro idioma? Mas para quê? Na maioria das oficinas, só entravam veículos nacionais, cujos manuais e boletins eram em português.

 

Por sinal, carro importado era sinônimo de problema. Muitas oficinas simplesmente os recusavam.

 

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Sim, as peças… Quem não se lembra? Poucos fabricantes além dos genuínos. Mas havia uma boa intercambialidade entre os sistemas, o que facilitava muito as coisas. Via de regra, o autopeças da esquina resolvia a maioria dos problemas.

 

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Mas as coisas foram mudando.

Devagar, no começo, mas foram. Primeiro veio o controle das emissões no final dos anos 80. Surgiu a injeção eletrônica. Pronto! Lá se foi o mecânico de volta para o banco da escola aprender algo que ele simplesmente abominava: eletricidade. Mas fazer o quê? Ou aprendia ou não poderia trabalhar com a nova geração de veículos que a nova década (anos 90) derramou no mercado.

 

Fruto da abertura das importações, que deixou os compradores de veículos bem mais exigentes, e do controle mais acirrado das emissões de poluentes e segurança veicular, a eletrônica embarcada havia chegado para ficar. Assim como os carros importados.

 

Rapidamente, o carburador foi substituído pelo carburador eletrônico, que nem bem “esquentou a cadeira” e já foi substituído pelos sistemas de injeção eletrônica. Por sinal, cada vez mais sofisticados e complicados. Sistemas ABS, airbag, controle de tração e estabilidade, climatizadores automáticos, transmissões automáticas eletronicamente controladas. E a coisa não parou por aí. Os sistemas se tornaram cada vez mais complexos e difíceis de consertar. Era preciso entender como as unidades de comando “pensam”, para poder gerar rapidamente os diagnósticos.

 

A cada sistema lançado, um curso novo. Sim, a escola se tornou parte da rotina do mecânico. Ou será mecatrônico? Regularmente, ele precisa se atualizar. O que se aprende no chão da oficina continua importante. Mas não é suficiente.

 

Os veículos importados, hoje, são uma grande fatia do mercado. E seus manuais estão em outros idiomas (principalmente, o inglês). Então, “’bora fazer curso de inglês”.

 

Afinal de contas, quem não sabe consertar perde o cliente para o concorrente. E como o número de oficinas só tem aumentado…Em tempos difíceis, não se pode bobear.

 

Internet? Sim, ela também veio para ficar. E o que era uma diversão dos filhos passou a ser ferramenta de trabalho e de administração dos negócios. E como ajuda na hora de procurar peças e informações. Então, “’bora fazer curso de informática”.

 

Pois é, o mecânico também teve que aprender administração para fazer o seu negócio sobreviver. Ele agora é um empresário. E com todas as prerrogativas do título.

 

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Mais do que isso! Um especialista no que há de mais avançado em tecnologia automotiva, que sabe manusear ferramentas tecnológicas avançadas, como os scanners, sem os quais não dá para interagir com os veículos modernos.

 

Isso sem falar na parte puramente mecânica dos veículos que ainda precisa ser consertada e que ele também domina. Ela não deixou de existir. E está cada vez mais sofisticada (motores de alumínio, correias lubrificadas, etc.).

 

Os últimos 32 anos não trouxeram apenas avanços tecnológicos às máquinas. Trouxeram também uma melhoria do profissional, que teve que se reinventar e “correr atrás” para conseguir sobreviver à nova realidade.

 

Mas valeu a pena. Não valeu?

5 comentários em “Artigo – O que mudou nos últimos 32 anos na vida do mecânico?

  1. Aqui na minha cidade , fui o primeiro mecanico a fazer um curso de injeção eletronica , issso em 1991 do gol GTI , mesmo porque trabalhava na concessionaria VW , se não seria dificel de fazer tal curso . Há antes havia feito o tal do carburador eletronico , na minha opinião um grande problema.

  2. Maravilha ver essa matéria não cheguei a viver nessa época que o carburador predominava as coisas na mecânica…mas pude imaginar como eram os tempos atrás e dar valor no que temos hoje..e claro nunca parar de estudar… ótimo

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