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Crise, que crise? Vamos trabalhar para crescer em 2009

O setor automotivo está em alerta. A tal crise que abalou os EUA teve reflexos por aqui e nos últimos meses toda a cadeia automotiva tirou o pé do acelerador, num ano cheio de recordes de vendas e de faturamentos. Como a crise vai atingir as oficinas, ninguém sabe de verdade, mas a previsão ainda é boa

Carolina Vilanova

 

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Com toda essa crise financeira, como será o ano de 2009? Muitos mecânicos devem estar fazendo essa mesma pergunta, num momento em que todo mundo sabe que tem alguma coisa errada no nosso mercado, depois da crise financeira nos EUA e em alguns países da Europa, mas os governantes e empresários brasileiros afirmam com confiança que foi só o susto, tudo vai voltar ao normal, ou ainda, melhorar.

 

A verdade é que o mecânico é o elo mais fraco da cadeia, o que tem menos dinheiro e, mesmo assim, a tal crise, que aconteceu do outro lado do mundo, impacta fortemente no seu negócio. Por isso a dúvida: teremos ou não um ano melhor na reparação? O que vai acontecer ninguém sabe, mas as previsões realmente não são das piores, pelo contrário, são animadoras.

 

Não se pode negar que 2008 foi um ano de glórias em todo o setor automotivo e o mecânico independente também garantiu a sua fatia do bolo. Há três meses, porém, tudo começou a mudar e, contrariando os anúncios na televisão de que tudo estava bem, pois a economia brasileira estava estruturada e não seria abalada, começaram a surgir os efeitos da crise no mercado brasileiro.

 

O primeiro grande baque que o povo sentiu foi o aumento do dólar, depois percebeu que já não era mais tão fácil comprar um carro zero km. O crédito na praça estava escasso e as concessionárias exigiam entrada com financiamentos que não ultrapassavam os 36 meses. Parar de vender carros significa parar de produzir carros, e a partir daí, boatos e verdades começaram a rondar a indústria automobilística em geral.

 

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Para se ter uma idéia, outubro foi o primeiro mês sem recordes desse ano, aliás, a primeria queda de vendas desde 1999. Ao todo foram vendidos 239.267 veículos, contra as 268.710 unidades comercializadas em setembro, ou seja, uma queda de 11%. Agora em novembro a situação ficou um pouco pior, o que preocupa ainda mais as montadoras.

 

Num comparativo com o mês passado, que já não foi tão bom, o mês de novembro registrou uma queda de 25,7% nas vendas de veículos automotores, ou seja, foram vendidas 177,8 mil unidades. A previsão agora é que 2,85 milhões de carros sejam emplacados em 2008, sendo que inicialmente se falava em 3 milhões de unidades. Mesmo assim, esse já é um resultado excepcional para a indústria brasileira, o melhor de todos os tempos.

 

Apesar dos números desanimadores, Jackson Schneider, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) demonstra confiança.

 

“Nós temos condições de crescer novamente em 2009. Temos uma indústria de grande potencial e esse pessimismo vai ser superado, com a volta do fluxo de crédito o mercado volta à normalidade”, disse. Mas afirmou também que estamos vivendo uma outra realidade e que a velocidade na redução das vendas foi surpreendente.

 

“De qualquer maneira, para superar essa crise, precisamos trabalhar de forma agressiva e criar, em conjunto com as redes de concessionárias, condições extremamente atraentes para que o consumidor volte a se interessar pela compra de um automóvel. Vamos fazer promoções, feirões, campanhas e tudo que estiver ao nosso alcance para atrair o consumidor”, garante.

 

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O setor já está se mexendo, principalmente, depois que os bancos das montadoras conseguiram uma injeção de R$ 4 bilhões de reais emprestados pelo Branco do Brasil e pela Nossa Caixa para liberar crédito para os financiamentos de veículos. Os consumidores agradeceram, mas ainda não têm confiança de entrar num financiamento.

 

Mas no fundo, ninguém sabe como será o ano que vem e, coincidência ou não, começaram os anúncios de férias coletivas nas grandes montadoras.

 

Ao todo, serão mais de 20 mil funcionários parados, se somados os da GM, Fiat, Iveco, Ford e Volkswagen. Uma medida que sempre assusta o trabalhador. “Será que vou ter o meu emprego quando voltar?”, eles se perguntam.

 

Na Fiat, cerca de 3 mil funcionários vão receber férias coletivas, mas não tem nada a ver com a crise. Cledorvino Belini, presidente da montadora italiana, afirma que as folgas estavam planejadas antes mesmo da crise chegar e que a produção será adaptada ao novo cenário de vendas.

 

A GM não anunciou um número oficial de afastamentos, mas a estimativa do sindicato é de que aproximadamente 4 mil funcionários entrem em férias coletivas nos próximos meses, contando as três fábricas: São Caetano do Sul/SP, Gravataí/RS e São José dos Campos/SP. Uma das alegações foi a necessidade de adequar seus estoques, devido a queda das vendas e da restrição de crédito.

 

A montadora americana reconhece que o faturamento de US$ 11 bilhões previstos para este ano terá uma queda de US$ 1,5 bilhões, justamente por causa da desaceleração nas vendas no País. Bem no momento em que a situação da matriz nos EUA é extremamente delicada: queda nas vendas, demissões em massa, fábricas fechando e o governo apertando o cerco por soluções para a situação. Aqui na GM do Brasil, pelo menos essa crise não terá efeito, já que é uma empresa muito lucrativa e atua independentemente da matriz.

 

A Ford também deu férias coletivas para os funcionários das suas três unidades: Camaçari/BA, São Bernardo do Campo/SP e Taubaté/SP. E o motivo é o mesmo: queda nas vendas de carros e caminhões. Os investimentos da empresa até 2012, porém, foram mantidos. É outra que está com a corda no pescoço nos EUA, esperando ajuda do governo para se reerguer.

 

Com isso, a produção de veículos automotores em outubro caiu 34,4% em relação ao mês passado. Foram produzidos 194,9 mil unidades contra as 296,9 mil do mês de outubro. O estoque tem hoje 305 mil veículos parados nos pátios numa média de 54 dias.

 

E a cadeia segue o rumo
Seguindo o fluxo lógico da cadeia automotiva, depois do desespero das montadoras veio o desespero dos fabricantes de autopeças. Fornecedores de componentes automotivos tanto para a reposição quanto para o mercado original, ou seja, diretamente para as montadoras, as empresas sentiram a queda na produção de veículos na sua própria linha de montagem: menos componentes foram fornecidos.

 

De acordo com o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), 100% das empresas associadas afirmaram que vão parar pelo menos 16 dias em dezembro. “Mas é bom levar em conta que os acontecimentos e algumas decisões das empresas têm mudado diariamente e a situação pode piorar”, alerta Paulo Butori, presidente do Sindipeças.

 

Mesmo assim, o ano de 2008 foi muito bom para os fabricantes, que também registraram seus recordes de vendas e faturamentos. Todo setor foi beneficiado com a alta das vendas do começo do ano e sofreu com a queda dos últimos meses. Até antes da crise, em setembro, o faturamento do setor havia crescido 11,8 % em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Sindipeças.

 

A previsão é fechar o ano com o faturamento de R$ 74,4 bilhões, um número 6,3% maior do que o de 2007. Inicialmente a expectativa era de crescer 9,6%. Butori recomenda alerta: “esse ano já está fechado, a crise pode trazer problemas no ano que vem, agora é necessário esperar”, comentou durante coletiva.

 

Para minimizar os efeitos da retração do mercado, a entidade montou um grupo de trabalho que começa a estudar o que pode ser feito. “É preciso ter muita calma e equilíbrio para não tomar decisões precipitadas nem ficar apenas olhando a tempestade pela janela”, alerta. “O primeiro trimestre do ano que vem será muito difícil”, diz Butori

 

Faturamento do setor:

 

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E o mecânico, como fica?

 

“Ainda é muito difícil avaliar os reais efeitos da crise, mas o País está mais estruturado para enfrentar essas turbulências internacionais”, comenta Antônio Carlos Bento, coordenador do GMA (Grupo de Manutenção Automotiva). Ele afirma que o setor da reposição automotiva, contudo, vive um momento repleto de oportunidades com o aumento expressivo da frota nos últimos anos.

 

De acordo com o coordenador, o aquecimento das vendas de zero km promove um incremento para a reposição, pois os carros precisam ser reparados uma hora ou outra. “Hoje, a frota já ultrapassa 28 milhões em todo o País, há um desgaste natural de peças que precisam ser repostas para manter esses veículos em circulação”, completa.

 

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No geral, o setor continua com boas perspectivas tanto para este ano quanto para os próximos. “Não dá para falar de crise, enquanto o mercado continua em expansão e a reposição tem excelentes oportunidades, o foco deve estar nos negócios e em oferecer serviços de qualidade”, analisa.

 

Ela afirma que para os mecânicos, existe um excelente mercado a explorar, mas é necessário estar preparado para atuar, por isso o empresário deve continuar investindo em treinamento, equipamentos e atualização.

 

“Nossos dados mostram que 80% dos motoristas preferem levar o veículo a uma oficina de confiança depois que já saiu da garantia de fábrica e que 14% levam os carros ainda no período de garantia. O mecânico de confiança tem preferência porque o consumidor busca agilidade na entrega do veículo reparado e preço mais acessível”, completa.

 

Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP, também acredita que o momento é bom para o reparador. “O ano de 2008 foi sem dúvida muito positivo para o setor da reparação. Entre as conquistas, destaco a apresentação do projeto de lei para a regulamentação das oficinas, que deve ser aprovado em breve e será um marco para o setor”, afirma.

 

De acordo com o Sindirepa-SP, a estimativa do setor da reparação de veículos é de crescimento de 7% em relação ao ano passado. “O setor deve começar a atender os veículos vendidos em 2006, mais de dois milhões de unidades devem migrar para as oficinas, justamente quando o período de garantia de fábrica acaba”, diz o presidente.

 

Para se precaver contra a crise, Fiola enfatiza a profissionalização do setor, com a criação de mais de 25 normas voltadas para a reparação de sistemas de veículos rodoviários automotores, elaboradas pela Comissão de Estudo de Serviços, Reparação e Manutenção de Veículos do Comitê Brasileiro Automotivo – CB-05 da ABNT, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento do setor da reparação.

 

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Os programas PMMVD – Programa para Melhoria da Manutenção de Veículos a Diesel, em parceria com a CETESB, e a campanha Carro 100% / Caminhão 100% – Quem tem chega bem, que visa conscientizar o motorista sobre a importância da manutenção preventiva de veículos, devem aquecer o fluxo das oficinas no ano que vem, então, é melhor estar preparado.

 

“Os mecânicos que se atualizarem têm mais chances de obter um bom emprego no mercado e ganhar até 4 vezes mais que o piso da categoria. Mecânico especializado não fica desempregado, há falta desse profissional no mercado”, afirma.

 

Com toda essa turbulência financeira, quem quiser se manter firme no mercado no ano que vem, deve ficar atento em alguns pontos importantes e oferecer sempre a excelência na qualidade dos serviços prestados para os seus clientes. E como não podemos parar de trabalhar, a solução é ter muita cautela, reduzir custos exagerados, evitar o desperdício, trabalhar com atenção para eliminar o retrabalho e captar outros recursos, como vender ingredientes frutos da reciclagem.

 

Aproveite que os consumidores estão receosos em comprar um carro zero km e incentive o seu cliente a manter o carro em ordem para que tenha o bem por mais tempo. Faça como as montadoras, drible a crise com promoções, ações de incentivo e ampliando o seu leque de serviços. E não desista de investir em certificação, qualificação profissional, atualização e fidelização do cliente, já que essas são as armas para ter um bom ano em 2009.

 

Potencial da cadeia de distribuição de autopeças:

 

Potencial da cadeia de distribuição de autopeças:
Elo da cadeia
2004
2005
2006
2007
Indústria de
autopeças
Faturamento em R$ (bilhões) Número de empresas Empregos (mil)
7,3
304
25,1
7,6
286
24,2
7,8
280
23,9
8,8
294
27,1
Oficinas
Faturamento em R$ (bilhões) Número de empresas Empregos (mil)
17,2
119.643
777,0
17,9
102.035
625,0
19,7
92.448
653,0
21,0
94.759
666,0
Total Geral
Faturamento em R$ (bilhões) Número de empresas Empregos (mil)
47,5
160.145
1.045,2
47,4
140.538
869,5
49,6
127.968
888,9
51,1
128.567
911,4
Fonte GMA

Obs.: Não inclui a rede de distribuição das montadoras (concessionárias).
O número de empregados da indústria de autopeças foi estimado de acordo com a participação da reposição no faturamento do setor.

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