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Chovendo na Roseira

Octávio Guazzelli é gestor do Autódromo de Interlagos e trabalhou durante muito tempo na Equipe Minardi de Fórmula 1. E-mails para: [email protected]

 

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Chuva boa, criadeira! Neste mês vou começar pedindo uma ajuda ao nosso compositor maior, Antonio Carlos Jobim. Maestro, pianista, cantor, arranjador, violonista, autor de centenas de músicas, entre elas, uma que tem o título de “Chovendo na Roseira” e que faz parte integrante da coluna, emprestando trechos (sublinhados) da sua letra.

 

Pois bem, a chuva sempre foi um ingrediente mágico para as corridas de Formula 1 por criar situações e resultados inusitados, que obrigam pilotos, engenheiros e mecânicos a um trabalho dobrado e proporcionam ao público uma prova ótima, prazenteira. E para não ter que forçar muito a memória, basta lembrar o GP do Canadá, do último dia 5 de junho, para ver como tenho razão.

 

Olha, um tico-tico mora ao lado. Vamos falar de outro GP de F1 onde a chuva além de criadeira, foi mãe. O GP dos Estados Unidos de 1990, em Phoenix no Arizona, quando a Minardi largou na primeira fila ao lado da super McLaren-Honda. Fato marcante, pois nas duas temporadas anteriores com Ayrton e Prost, a McLaren não tinha deixado quase nada para ninguém, e por ninguém, leia-se: Ferrari, Williams, etc, etc. Naquele momento, vinda lá de trás do pelotão surgia em Phoenix a nova Fênix da F1, a nossa Minardi, orgulhoso tico-tico, logo de cara, fazendo o segundo tempo atrás apenas da McLaren do Berger.

 

E passeando no molhado. Para quem achar que eu estou forçando a barra, é só consultar os anais da F1 e verificar a classificação oficial no sábado, dia 10 de março de 1990, do GP F1 USA. Estão lá, na primeira fila, Gerhard Berger (McLaren) e Pierluigi Martini (Minardi). Sem exagero nenhum, foi um momento mágico, em que todos os fatores pesaram a nosso favor, piloto na ponta dos cascos, carro acertadinho, motor, pneus, circuito de rua bem apertado, tudo, e um pouco de sorte, porque esse tempo veio já na sexta-feira e no sábado caiu uma chuvinha maravilhosa, que nos assegurou a inédita primeira fila. Naquele tempo a classificação era diferente, valiam os tempos dos dois dias.

 

Que traz o azul! A chuva que caiu no meio do deserto do Arizona, onde fica Phoenix, era tão difícil como a Minardi em primeira fila, mas aconteceu, e como diz o Jobim, trouxe o azul, a cor da Minardi. Estávamos com tudo naquele momento, nossos patrocinadores americanos da Edge vibrando, o Paul Newman, que fazia uma preliminar da F1 da categoria Trans Am (em sua própria equipe), veio ficar no nosso box trazendo mais americanos para viver a prova no box de um top-team. Que farra, que inesquecível, a música do sucesso, do reconhecimento ecoa até agora! Até o Ayrton, sempre compenetrado até a alma durante os finais de semana de GP, parou pra conversar e brincar com a gente, porque ele estava em quinto no grid e veio conferir o que tinha acontecido. Estava chovendo na nossa roseira.

 

Momentos como esse é que fazem todo o sacrifício do trabalho, o investimento das horas mal dormidas, a luta por suas idéias e o seu ideal mecânico valerem a pena. A Minardi deixava de ser um sonho e passava a ser uma realidade, que pertencia a todos. Ou como diria Jobim, muito mais apropriadamente para encerrar, Ah, Minardi, você é de ninguém!

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