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Artigo – Carro antigo? Negócio novo!

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Por Fernando Landulfo

Nos últimos anos, o “antigomobilismo” tem se tornado uma verdadeira febre entre os brasileiros. A maior evidência disso é o aparecimento de inúmeros clubes, revendas, oficinas de restauração e publicações técnicas especializadas no assunto. Clássicos já consagrados como Rolls Royce, Dusemberg, Isotta Fraschini, Bentley, Jaguar, MG, Bugatti, Mercedes e outras raridades continuam sendo comercializados por verdadeiras fortunas.
No entanto, pode-se notar que muitos modelos, antes abandonados ou vendidos a “preços de banana”, atualmente atingem cotações de carro zero quilômetro. Ainda mais, se estiveram em bom estado de conservação. Não acredita? Pois então, consulte o valor de mercado de qualquer modelo da linha Dodge nacional que você vai cair de costas. Camaros e Mustangs dos anos 60 e 70 podem passar de R$ 100 mil.

Outros veículos nacionais com mais de 35 anos, como Sinca, Esplanada, DKW, Aero Willys, Interlagos, JK e Uirapuru são “disputados a tapa”. E quanto mais raro o modelo, maior o preço. Sabe quanto vale um Fusca com teto solar original e fábrica, uma limusine Itamaraty, um Karmann Ghia conversível, ou mesmo, um Democrata? Muito mais do que você pensa.

Os nacionais também não escapam. Sabem qual o preço de venda de um Monza ou Kadett (versões esportivas ou topo de linha), em excelente estado de conservação? Pode ter certeza que é maior do que você imagina.

Do lixo ao luxo

Pois é, as coisas estão mudando. O que antes era chamado de “encrenca” (um carro que ninguém queria) se transformou aos poucos em clássico. Isso porque esse apaixonante hobby, que no passado era quase que uma exclusividade das classes mais abonadas, hoje é praticado por várias camadas da sociedade, contemplando uma grande variedade de modelos.

E para os ciumentos e possessivos proprietários não importa, nem um pouco, se o carro não é considerado um modelo colecionável. Tão pouco, se não atingiu a idade de receber a placa preta (30 anos). Sua “relíquia” é um verdadeiro tesouro e colocar isso em dúvida pode ser encarado como um gravíssimo insulto.

O lado positivo é que esse emotivo e dedicado “guardião” não mede esforços, ou despesas, para manter os seus “adorados” em perfeitas condições de conservação e originalidade. Afinal de contas, trata-se de um investimento (no caso dos colecionadores profissionais), um presente recebido do pai ou do avô, ou mesmo, um sonho de infância realizado. E mais: o seu orgulho próprio é quase sempre colocado em jogo em eventos, passeios do clube da marca, concursos de elegância e encontros de “veterans”, como são chamados esse carros.

Mas será que vale a pena atuar nesse segmento do mercado?

Bem, os grandes colecionadores costumam manter estrutura própria de restauração e manutenção. Eventualmente fazem uso de serviço terceirizado. A grande maioria dos pequenos colecionadores, no entanto, possui no máximo três carros, que foram restaurados e sofrem manutenção em oficinas independentes.

Muitos mecânicos descartam a entrada desse tipo de veículo na sua carteira de clientes. E as alegações são sempre as mesmas: falta de peças de reposição, excessivo tempo de permanência dentro da oficina, falta de informações técnicas e de investimento por parte do proprietário.

Agora, antes de formar uma opinião definitiva sobre o assunto, deixe de lado os seus preconceitos e analise os seguintes argumentos:

1º) Com relação a técnica:

Esses veículos utilizam uma tecnologia antiga, simples e muito conhecida. Não há qualquer mistério no seu funcionamento. É simplesmente o básico da “arte”;

Como esses carros já saíram de linha, há muito tempo, a informação técnica de reparação não é mais um segredo guardado pelas concessionárias. Muito pelo contrário: esse é um mercado em que elas não querem atuar;

A reparação desses veículos exige a estrutura já existente em qualquer boa oficina. As ferramentas especiais são abertamente comercializadas pelos fabricantes. No que diz respeito aos equipamentos para diagnóstico, além daquilo que já atende os veículos mais modernos, são necessários apenas os analisadores de motores com osciloscópio de ignição e os analisadores de distribuidor, hoje considerados obsoletos no mercado da reparação;

As rotinas para a obtenção de diagnósticos e reparação desses veículos são muito mais simples do que a dos mais modernos. Ou seja, perde-se menos tempo para se realizar o diagnóstico e o reparo;

Os veículos têm menos partes para desmontar, como por exemplo, as carenagens plásticas, que encobrem as partes que sofrerão intervenção. Novamente perde-se menos tempo para se realizar o diagnóstico e o reparo;

Existe espaço de sobra nos compartimentos, exigindo menos sofrimento físico do reparador;

A atual tecnologia de projeto e fabricação (CAD, medição em três dimensões computadorizada, análise metalográfica, eletroerosão, soldagem MIG e TIG e centros de usinagem CNC), permite a reprodução de qualquer peça que não seja mais produzida ou comercializada.

2º Com relação à logística:

A Internet, ferramenta administrativa obrigatória em qualquer oficina, permite o contato direto com a maioria dos fornecedores de componentes, sistemas e materiais de consumo (fabricantes, atacadistas e varejistas), genuínos, originais e paralelos, localizados tanto no Brasil como em outros países. Os sites de vendas (Mercado Livre, E-bay, etc.), as revistas especializadas, as feiras de negócios (AUTOMEC) e os encontros de “veterans”, coalhados de fornecedores de peças, completam a lista das disponibilidades;

As escolas SENAI dispõem de toda a tecnologia necessária para a produção de uma peça, que não possa ser mais encontrada. O serviço, que é cobrado, pode ser realizado mediante a solicitação de um T.I. (Trabalho Industrial);

Conforme dito anteriormente, as concessionárias não se interessam pelo mercado de reparação de “veterans”. Logo, a informação técnica, quando ainda existente, é facilmente colocada a disposição. Além disso, muitos clubes dispõem de manuais de reparação, assim como catálogos de peças. Uma terceira fonte de informação são os sindicatos patronais, como o SINDIREPA SP e as escolas profissionalizantes, como o SENAI, que dispõe de excelentes bibliotecas. Pode-se ainda adquirir a literatura em editoras e sites especializados, nacionais e internacionais (nos Estados Unidos e Europa os manuais e os catálogos de peças são vendidos abertamente). Por fim, pode-se pedir ajuda a montadora.

Exemplo:

A Fiat italina possui um departamento, especializado em documentação antiga (“archivio histórico”), que fornece informações sobre modelos antigos e fora de linha (europeus) a quem necessita;

Os fabricantes de ferramentas especiais (nacionais e internacionais) colocam à disposição do reparador uma verdadeira coleção de dispositivos dedicados a veículos fora de linha. Além disso, é possível negociar, com concessionários antigos, o lote das ferramentas obsoletas. Os equipamentos de diagnóstico podem ser negociados diretamente com os fabricantes e importadores (novos), ou com representantes comerciais especializados (usados). Esse tipo de equipamento também pode ser encontrado nos sites de vendas.

3º Com relação ao negócio em si:

O trabalho com “veterans” não impede a empresa de atender veículos modernos. A estrutura necessária é praticamente a mesma. No entanto, o investimento periódico em tecnologia é praticamente zero, em comparação ao necessário para se trabalhar com veículos modernos. É considerada uma fatia do chamado “mercado do luxo”, onde não existe crise;

A permanência do “veteran” na oficina depende única e exclusivamente da agilidade do reparador em adquirir peças, ferramentas e especificações, além oferecer ao cliente alternativas técnicas e financeiras. Não é muito diferente daquilo que se faz ao se operar com veículos modernos;

O mercado se encontra muito carente de profissionais competentes que se interessem nesse tipo de cliente. Lojas especializadas no comércio de “veterans” pagam muito bem por um serviço de boa qualidade. Dentro de poucos anos, veículos com idades entre 20 e 30 anos, serão obrigados a passar pela inspeção veicular, o que torna compulsória a correta manutenção.

4º) Com relação ao cliente:

O colecionador é uma pessoa emotiva, detalhista, exigente e desconfiada, pois já sofreu muito nas mãos de gente desonesta. Porém, uma vez obtida a sua confiança e respeito, a fidelidade é duradoura. Ele costuma ser muito mais leal do que um cliente normal. E se pertencer a um clube, ganha-se também a confiança de boa parte dos seus companheiros. Gosta de acompanhar o serviço, pois têm um ciúme doentio do seu carro. Como seu hobby é um item supérfluo, em qualquer orçamento doméstico, ele só entra na oficina podendo gastar. E mais: paga com gosto, contas salgadas, quando suas expectativas são superadas.

Gostou da idéia?

Antes de entrar de cabeça neste negócio, preste atenção nessas dicas muito importantes:

1º) Você conseguiu reconhecer e visualizar mentalmente todos os modelos citados no início deste artigo? Não? Então vá pesquisar. Seja em livros, revistas especializadas (testes) ou propagandas de época. O primeiro passo, para se ganhar a confiança do colecionador, é mostrar algum conhecimento a respeito do modelo que ele possui. Ainda mais quando se trata de uma edição limitada. Quanto mais você souber mais ele confiará em você. Tome cuidado com datas, combustível, cores, modelos de carburador e distribuidor, acabamento e motorização. Afinal de contas, você é um especialista no assunto;

2º) Jogue fora todos os seus preconceitos e encare cada veículo como uma jóia rara. Não importa o ano ou o modelo. Mentalize a frase: “É uma honra reparar essa raridade”. Dentro da oficina, esse carro deve ser tratado como se fosse um zero quilômetro.

3º) Cuidado com as atitudes! O colecionador é extremamente desconfiado. Ele tolera erros. Mas não suporta má fé. Ou seja: Transparência sempre! Essas pessoas costumam ser bem posicionadas e influentes. Mas não ostentam. Logo, cuidado ao julgar aparências. Geralmente eles conhecem muito da mecânica do veículo, pois devoram os manuais de serviço. No entanto, se fazem de leigos para captar a verdadeira intenção do prestador de serviços;

4º) Nada de remendos e gambiarras! Esse tipo de veículo é exigido como se fosse um carro de uso normal. Ou seja, é utilizado para viagens e passeios longos. E não pode quebrar, pois a família do colecionador está dentro dele. Logo, deve ser reparado com o mesmo rigor técnico utilizado para os veículos mais novos. Adaptações e recuperações somente com o expresso consentimento do proprietário, que deve ser alertado de todos os riscos. E mais: não confie na palavra de prestadores terceiros que não garantem, por escrito, os serviços de recuperação. Eles serão os primeiros a tirar o “corpo fora” quando a “bomba” estourar na sua mão. É melhor não fazer, do que fazer sem 100% de confiabilidade. Ou seja: Peça nova e genuína sempre que possível! Esgote todas as possibilidades antes de recomendar uma adaptação ou recuperação;

5º) Crie o hábito da pesquisa: localize o fabricante das peças, que por ventura não são mais encontradas em lojas e concessionários. Muitas vezes ele pode ajudar na localização de um varejista que possua um estoque antigo, ou mesmo, fornecer uma unidade “esquecida” no estoque;

6º) Forme uma boa biblioteca técnica. Você deve investir, principalmente, em manuais de serviço e catálogos de peças. Possuir livros dedicados a marcas e modelos, assim como, uma ou mais coleções de revistas especializadas, em carros nacionais, não é uma má idéia. Não se esqueça dos manuais de reparo, apostilas de treinamento e catálogos de peças de sistemas específicos: carburadores e sistemas de ignição. Colecione também: tabelas de regulagens de motor e alinhamento de direção, assim como, material promocional fornecido em feiras como a AUTOMEC. Se o espaço é pequeno, para tanto papel, digitalize o que for possível e guarde em CD ou DVD. Para completar, adquira também um bom dicionário técnico bilíngüe;

7º) Aprenda utilizar bem a Internet, que é imprescindível na localização de fornecedores, literatura técnica, clientes e parceiros. Agora, se você não tem tempo ou afinidade, uma boa alternativa é contratar um jovem aprendiz de mecânica automobilística do SENAI que seja “micreiro”. Ele poderá ser de grande ajuda na rotina da empresa;

8º) Aprenda um pouco de inglês, que é crucial na leitura de manuais e especificações técnicas de veículos importados. Mas, se o tempo anda “curto” para freqüentar uma escola, lembre-se: os aprendizes e técnicos em automobilística do SENAI estudam inglês técnico;

9º) Faça contato com a maior quantidade de clubes possível (no Brasil e no exterior). Nessas entidades você encontrará muitos parceiros. Mas prepare-se: os associados vão querer saber o seu real propósito;

10º) Freqüente os encontros especializados e aprenda a garimpar peças e informações. Além disso, você precisa ser conhecido no ramo;

11º) Estabeleça uma parceria ou, no mínimo, um bom contato com:

Uma excelente retífica de motores,

Uma excelente oficina de usinagem (torno e fresa),

Especialistas na reparação de transmissões (manuais e automáticas), diferenciais, caixas de direção (mecânicas e hidráulicas), ar condicionado, alternadores e motores de partida, de sua absoluta confiança,

Escolas SENAI especializadas em soldagem, caldeiraria, fundição, estamparia, usinagem e ferramentaria,

Fabricantes de molas pequenas (para o avanço centrífugo dos distribuidores), carburadores e suas peças, distribuidores, chicotes elétricos, conectores, artigos automotivos de borracha e plástico, peças para acabamento e autopeças em geral,

Atacadistas e varejistas, especializados peças para “veterans”, no Brasil e no exterior,

Concessionários antigos, que podem ceder ferramentas, equipamentos e informações;

Representantes comerciais de equipamentos para oficinas,

Fabricantes de ferramentas especiais;

Serviços de informação técnica de montadoras e fabricantes de autopeças.

12º) Não tenha receio de mandar um componente para ser reparado no exterior, se lá estiver o especialista, ou importar componentes, se assim for necessário;

13º) Não deixe faltar os equipamentos de diagnóstico e as ferramentas especiais, que devem ser utilizadas, principalmente, na frente do cliente;

14º) Freqüente feiras de negócios como a AUTOMEC, onde você pode fazer contato com uma grande quantidade de fornecedores, além de assimilar tecnologia moderna, que pode ser utilizada na reparação dos “veterans”;

15º) Associe-se a um sindicato patronal que disponha de bom serviço de informações técnicas;

16º) Ao adquirir serviços de terceiros, estabeleça antes, por escrito, os termos de fornecimento (qualidade das peças e garantias).

É bom lembrar, para se tornar um mecânico expert em “veterans”, é preciso, além de informações e ferramentas, comprometimento e dedicação. Boa sorte!

Raridades nem tão antigas:
E não se deixe enganar. Modelos nacionais mais recentes também não são baratos. E a lista é grande: Galaxie e seus derivados (LTD e Landau), Maverick GT, Alfa Romeo 2300, Opala (Gran Luxo, Comodoro, Diplomata, SS, Silverstar), Passat (TS, GTS, LSE, “Iraquianos”), Chevette (SR, GP, GP II, Ouro Preto, Jeans), Corcel GT, Fiat 147 (Top, Racing, Rallye), Dodge Polara GLS, Puma, Miura, Adamo, Dardo, Avallone, Ventura e MP Lafer.

Del Rey (Ouro, Ghia), Escort XR3 e Kadett GSI conversíveis, Monza Classic, Versailles Ghia, Apollo (GLS, VIP), Gol (GT, GTS), Santana (CD, GLS, EX, Sport), Logus (GLS, Volksburg Edition), Uno Turbo, Tempra Turbo, Alfa Romeo 164 Super, Ômega CD (nacional), Vectra CD (fase 1), Audi 100, Passat VR6, Citroen XM e Fiat Tipo 16V.

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