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Toque feminino na reparação

Mulheres que trabalham na área de reparação automotiva enfrentam preconceito, provam que entendem do assunto, se destacam e conquistam cada vez mais espaço em oficinas e concessionárias.

Daniela Giopato

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Ficou para traz o tempo em que cozinhar, lavar e passar – tarefas culturalmente femininas – eram exercidas somente pelo “sexo frágil”. Dia após dia, as mulheres conquistam mais espaço e hoje assumem funções que antes eram exercidas exclusivamente por homens, como no setor de  reparação automotiva, onde muitas profissionais optaram por colocar a mão na graxa.

“A mulher tem maior sensibilidade para detectar um ruído, é mais simpática e ajuda a modificar o comportamento dos mecânicos, além de deixar o ambiente mais leve, limpo e, porque não, até mais sofisticado”, declara Milton Caetano Martins, gerente de pós-vendas da Etoile – concessionária Citroën em São Paulo, ao se referir à Juliana Ribeiro de Miranda. “Além de mecânica, é Techinical Expert, o único canal da oficina com a assistência técnica da Citroën”, acrescenta.

 

Durante dois anos, a equipe da Etoile era formada apenas por mulheres, mas o projeto não vingou por falta de reposição, já que na época havia pouca mão de obra feminina qualificada para a função de mecânica, funilaria ou pintura, explicam os funcionários antigos da empresa.

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Com apenas 21 anos de idade, Juliana tem um currículo invejável. Começou aos 14 anos em oficina particular e logo recebeu convite para trabalhar na concessionária Etoile. “Meu pai tinha uma oficina e eu sempre o ajudei. Quando a oficina fechou procurei um emprego na área. Bati em muitas portas antes de conseguir a atual vaga e lembro que no início os clientes ficavam um pouco incomodados, mas logo percebiam que eu entendia do assunto e aprenderam a confiar”.

Há cinco anos na Citroën, Juliana se tornou uma profissional de total confiança. Porém, avisa que no início também teve que lidar com o preconceito dos clientes. “Apesar daquela primeira reação de desconfiança, eles nunca se recusaram a fazer um serviço comigo. E depois de pronto assumiam que mulher presta mais atenção e é detalhista. Agora, alguns pedem para que eu faça o serviço”.

Outra profissional que também enfrentou preconceitos e hoje tem seu trabalho respeitado é Vânia de Fátima Soares, de Curitiba/PR, 28 anos, cinco de profissão, casada e mãe de um menino. O interesse pela profissão surgiu por medo de ficar parada com carro por problemas mecânico. Fez cursos de eletrônica básica e injeção eletrônica para procurar emprego na área.

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“No começo foi muito difícil, pois sem experiência, jovem e mulher. Então decidi ligar para o Sindirepa e consegui vaga em uma oficina. Depois trabalhei em uma retifica de motores diesel e outros setores e com isso as pessoas começaram a me conhecer, a sentir confiança”.

Vânia teve oportunidade de trabalhar como mecânica na Fórmula Truck, após um contato com o piloto Mad Macarrão, que na época corria com um Volvo. Diz ter atuado na equipe em algumas etapas e fez amizade com o pessoal da Volvo, que a convidou para trabalhar na área de injeção eletrônica, na fábrica da Volvo do Brasil, onde está até hoje.

Apesar do espaço conquistado, acredita que o mercado ainda é muito masculino. “Se é o que a pessoa deseja e gosta tem de ir atrás para conquistar a confiança e o respeito dos outros profissionais. Outra coisa importante é fazer cursos e trocar idéias com pessoas mais experientes”, aconselha.

Reparação de funilaria e pintura é outra área em que o “sexo frágil” tem se destacado. “Sempre acreditei que esse setor não era lugar para mulheres, mas hoje me convenci de que estava totalmente errado. Cerca de 90% dos nossos problemas com o serviço foram resolvidos quando começaram a ser executados por mulheres”, Afirma José Paulo Fraga, chefe de funilaria da Toriba Veículos – concessionária Volkswagen.

 

Uma das mulheres que trabalha neste setor é a paulista Adriana Fernandes da Silva Gomes, 24 anos e quatro de profissão. “Comecei na lavagem de carro e quando surgiu a oportunidade para trabalhar na área de preparação dos veículos para pintura não pensei duas vezes. Sabia que iria enfrentar um pouco de preconceito, afinal é uma área dominada por homens, já que o trabalho é um pouco braçal”, lembra Adriana.

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Adriana afirma que no início os clientes estranhavam um pouco mas logo se convenciam de que mulher é importante nessa área devido ao capricho. “Na época que entrei a maioria era homem  e com aquela visão machista de que lugar de mulher é no fogão, mas conquistei a confiança e o respeito deles e a relação ficou ótima”, comemora.

Ter um diagnóstico dos problemas de um veículo feito por uma mulher não parece ser muito confiável na visão de um homem. Mas não é o que os clientes da Indeco Indústria de Eixos de Comando de Válvula Ltda. pensam. Erondina Ermogenes da Cruz, 37 anos,15 de profissão, que trabalha com atendimento ao cliente na área de mecânica,  afirma que o preconceito não é um problema tão grave, afinal a mulher sabe conquistar seu espaço.”Os clientes até aprovam mulheres nas oficinas, dizem que somos mais chatas e gostamos de serviço limpo e bem feito”, define.

Erondina garante que certa ocasião deu uma explicação sobre o comando de válvula preparado e o cliente me perguntou se ela sabia lavar, cozinhar e passar. “Uma mulher é capaz de fazer várias atividades ao mesmo tempo”, respondeu a ele.

2 comentários em “Toque feminino na reparação

  1. Na minha Empresa tenho a três anos uma mulher na linha de repintura automotiva e estou há algum tempo a procura de uma para colocar na linha de mecânica preventiva e coretiva.

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